30 de ago. de 2012

É de mágica que dobro a vida em flor. (das vantagens das lágrimas)



Depois de atravessar mares que até moby dick ousaria habitar, você ganha algumas coisas. No caminho de casa, no ônibus mais lotado da cidade, eu vinha hoje. E quando enfim consegui um lugar vazio para sentar me joguei e desejei não precisar mais passar por nada disso. E sentei junto com minha cara de desdém. Jamais poderia imaginar que algo naquele lugar, com aquelas pessoas, pudesse trazer um pouco de magia pro meu dia, e que dia! Foi então que o ônibus parou e uma garota subiu, e como eu, ela se jogou na unica cadeira vazia do ônibus. Passou quase desapercebida por mim, até eu olhar novamente e perceber que ela chorava tão desesperada, mas, em total silêncio... As pessoas olhavam pra ela como se chorar fosse a coisa mais anormal do mundo, ou que chorar dentro de um ônibus seja a coisa mais inadequada do mundo. E sei que  90% das pessoas acharam que o choro poderia ser o término de um namoro. Porque essa é sempre a primeira alternativa quando se vê alguém chorando? E eu não pensei nada... Apenas senti uma vontade enorme de dizer à ela: "Chore mais, menina, chore o quanto puder, se precisar te dou um dos meus barcos pra você navegar nesse mar bravo aí, mas, olhe, pare de chorar não, chore." Fiquei quieta. Até a hora de ela virar e olhar pra mim e sorrir o sorriso mais desesperado que eu ja pude ver, fiquei tão inquieta e dei à ela o sorriso mais analgésico que já pude dar. E ela voltou a chorar desesperada, e olhou pra mim novamente e sorriu outra vez. E assim foi. Chorava e sorria pra mim. Acho que ela percebeu que eu, era a única naquele ônibus que entenderia aquele choro, acho que ela deve ter me visto ontem, ou hoje mais cedo nesse grande mar revolto. Foi do tipo "ah você também esta aqui comigo". Fiquei inquieta e nervosa. E pensei em mais uma vez dizer tudo aquilo. Mas, meu ponto de saida se aproximava, tirei os fones, abri minha bolsa, peguei um lenço de papel e escrevi a frase mais clichê que já pude escrever à alguem que sorriu em desespero ao mesmo tempo que chorava: "Tudo passa, menina". Deixei em cima da bolsa dela e segui. E tenho vivido como diz a canção dos hermanos ''é de lágrima que faço o mar pra navegar", só que hoje, foi o dia da segunda estrofe "é de mágica que dobro a vida em flor".

Desci do ônibus decidida a acreditar no que eu disse àquela menina de sorriso desesperado. E sei que vou regar o mais rápido possivel dessa vez, com total precisão, e avisar ao senhor de iludir que essa daqui 'tem muito mais amor pra dar'


Láláláiá.