9 de ago. de 2013

Na estrada.

      


      Estar na estrada é algo de duas mãos. Quando se está no caminho da ida, curtimos cada ventinho bagunçando o cabelo, aquele vento limpo, que tira todas as impurezas do rosto e da alma. Queremos que o destino chegue logo. E, quando temos sorte, podemos até nos deparar com um tímido arco-íris, uma vaca passeando, passarinhos nos causando inveja no céu imenso, ou até mesmo uma fina chuva, aquecendo o asfalto e o coração. Há um sentimento que só nos preenche quando estamos na estrada, aquela coisa de querer ser infinito, de aproveitar a vida, e de deixar todos os problemas irem embora junto com a poeira atrás de nós. É inventar significados absurdos para as placas de trânsito, avistar um sorriso de alguma criança que anda pelo chão quente descalço. É querer descer no meio do nada e correr pelo mato a dentro. A estrada nos aconchega, mesmo sendo lugar de chegada e de partida. Na estrada, os amigos se tornam palhaços, cantores e completas crianças livres, estradantes. É na estrada que eu consigo alcançar dimensões, que consigo dar asas aos sonhos e calar a voz do desespero. A estrada é o silêncio mais sábio que pode existir. Na estrada, sempre tem um horizonte distante. Até que chegamos ao ponto esperado. A estrada nos esvazia para receber o novo que está por vir.
     Agora, o caminho de volta é completamente diferente. As sensações mudam, o olhar baixa e, você deseja lá dentro -baixinho- que a estrada dure mais um pouco, só pra te levar pra bem, mas, bem longe. Pra algum caminho novo, mesmo que o lar seja confortável. Há momentos da vida, que precisamos deixar o horizonte nos acalmar, ter pra onde ir, respirar um ar mais puro. Novidade. Ai, estrada, por favor, se estenda, o máximo que puder, gire em círculos, curve -mesmo que o enjoo chegue-, mas, me leve pra outro lugar, sem parar, pra que eu possa respirar este ar de estrada, deixar o olho brilhar com o lago bonito ao lado. Por favor, me leve para longe das ruas engarrafadas, da realidade que me espera. Se estenda, estrada, pra que eu possa viajar pra dentro dos meus abismos mais profundos, para a tentativa de resgatar um tiquinho de poesia, ou de uma crônica, ou uma tragédia, qualquer coisa que me faça sentir tudo aquilo outra vez.
         
"Na minha estrada para o paraíso uma vozinha diz: Não pense duas vezes e não olhe pra trás se você quer que as coisas mudem" n.j.