30 de nov. de 2013

Poeira debaixo do meu tapete.












A cada luar e nascer do sol, são acumuladas cerca de 20 mil toneladas de lembranças. Tudo isso a cada 24 horas. Dessas 20 mil toneladas, 15 mil voam junto com o vento. Das 10 que restam, algumas também se perdem: 5 mil viram palavras. 3 mil viram beijos. 1 mil ficam guardadas dentro da gente, mesmo quando a gente quer esquecer. E as outras mil, guardamos por que não queremos perder. De jeito nenhum. Dessas mil que guardamos, cerca de mais ou menos metade não podem ficar expostas no vão da sala, pra todos os neurônios verem, imaginem os danos! Não ficam nem nas veias, nem na mente e nem no coração. Elas ficam debaixo de um tapete – que é mágico – De um tapete, ali mesmo no vão da sala. Bem no cantinho, à esquerda. Completamente despercebido. Lá onde moram cerca de 500 quilos de segredos, que queremos esconder até mesmo do próprio sofá (que recebe todas as queixas do dia-a-dia) que tá aqui bem pertinho.
Debaixo desse tapete, existe pó suficiente para causar horas e horas de alergia até ao coração mais protegido. Imaginem o meu! Imaginem os danos! Por isso nem ouso fazer faxina debaixo desse tapete.
Mas, eis que hoje, depois de todos saírem da majestosa sala de desejos, tristezas e memórias, -que fica bem dentro de não sei o que, mas, dentro da gente- um vento soprou e levantou uma pontinha do tapete. Mas, não tinha ninguém por perto, ainda bem, porque, Imaginem os danos! Fiquei com tanto medo do que tinha escapado de lá. Imagina só a alergia sentimental que meu corpo enfrentaria num sábado trash feito este. Aí que veio a surpresa.
Não era poeira. Aquela lembrança que tinha escapado não causou nenhuma espirradeira melancólica, nenhum soluço magoado e nenhuma tosse cheia de fobias. Era colorido, e ficou suspenso bem no meio da sala. E de repente, cerca de 200 kilos de lembranças maravilhosas em forma de pó colorido suspenso no meio da minha sala, se transformou em estrelas. Pequeninas estrelas, explodindo um céu estrelado bem no meio da sala de teto fechado. E aí, eu vi que era você.
Que me abraçou mesmo estando suspensa no ar em forma de céu e projetou nesse mesmo céu as melhores cenas do nosso filme. E que cenas! Nesse exato momento, o meu corpo todo reagiu, não de forma alérgica, mas, de uma forma, que...! Eu não sei. Só sei que logo logo todos vão voltar, e você terá que voltar para o tapete, deixando assim o nosso filme em volume único de edição. Sem nem uma chancezinha de ter uma segunda parte. Isso não é uma saga, bem-zinho. Isso é volume único, pelo menos por enquanto. Isso são 200 kilos de memórias feito pó –mas, feito pó de estrelas- que moram debaixo do tapete.
Ora, vejam só que sorte a minha. De possuir um céu debaixo de um tapete, na majestosa sala de desejos, tristezas e memórias, -que fica bem dentro de não sei o que.
Então, meu desejo é que os deuses do vento, te tirem de novo daí debaixo, pra quem sabe, uma dia sairmos da sala e produzirmos assim, não só a segunda, mas, uma terceira e quarta versão desse filme, que não mora mais em Roma.